domingo, 21 de junho de 2009

Dois anos de atraso



Hey, hey, hey!

Pois é, dois anos de blog se completam no dia de hoje, caros leitores.Esse é um daqueles preciosos dias (junto com o último dia do ano) em que eu sento em frente ao meu precioso computador, ligo o iTunes em alguma banda metida a alternativa, comtemplo a tela e, ao invés de fazer longos e turbulentos textos no bloco de notas, me logo no Blogger, clico em "Nova postagem" e posso escrevo qualquer coisa que passe pela minha cabeça no momento.Embora seja muito mais criativamente libertador fazer do que tentar enfiar comentários sarcásticos enquanto descrevo sistemas de batalhas e falhas de jogabilidade, é ao mesmo tempo mais complicado, já que eu nunca sei como esses textos podem acabar.

È bem verdade, eu tinha umas idéias sobre o que fazer em datas cabalísticas como essa; pensei em fazer um Top 7 compilando as minhas análises favoritas (e também as mais vexatórias), fazer umas estatísticas listando dados absurdos (como a quantidade de vezes que foram utilizados parênteses e aspas, ou todos os neologismos criados ao longo da vida do blog).Até comecei um texto bacaninha e abstrato relacionando as coisas que aconteceram na minha vida nos dois últimos anos com as coisas que aconteceram nos jogos analisado aqui.Mas eu desisti desse; podia dar a impressão em alguém que a minha vida no mundo real é minimamente interessante.

Pois é.É curioso observar como, ás vezes, tanta coisa muda na vida da gente, enquanto tudo permanece igual.Sabe, ano passado eu tive que escrever esse texto na pressa, pois era véspera de prova de vestibular.Esse ano, eu tô meio que escrevendo na surdina de novo, mas é porque a faculade me atulhou de trabalho (que a propósito, são bem mais interessantes do que o que eu tinha que estudar na época da escola), e tive que arranjar um tempinho pra escrever.Hum, imagino com o que eu vou estar ocupado no ano que vem.

È, esses textos não tem muito assunto, então, vou ser breve e fechar logo; obrigado a todos que leram e apoiaram o Gamer Atrasado nos dois últimos anos, mesmo com o ato de que esse blog não é lá atualizado muito frequentemente, e também não dispõe de todos esses recursos bacaninhas de outros blogs, tipo indicações no Digg, sistema de tags complexo, um RSS que funcione, um Twitter do blogueiro (como se eu conseguisse definir a magnitude da minha rotina em 145 caracteres), ou posts sem erros de digitação.Mas curioso é que, pelo que acompanho, muitos blogs por aí nem chegam perto de durar dois anos.Por outro lado, esses mesmos blogs ás vezes conseguem igualar a quantidade de post de toda a existência deste aqui em duas semanas.Mas ei, esse tipo de modelo de trabalho funciona pra mim; talvez seja por isso que eu consigo manter esse endereço eletrônico por tanto um tempo.Realmente, as coisas não precisam ser feitas de um jeito só.Por que diabos eu ainda me preocupo tanto com essas coisas bobas...


Hm."You gotta learn to live, and live, and learn".Talvez.


Então, um viva a vida e as infindas possibilidades que nela estão contidas.
Os próximos anos serão ainda mais cheios delas!
(Porque haverão muitos próximos anos, meu caro leitor...)

sábado, 6 de junho de 2009

Os Bravos e os Audazes

Não deve ser segredo para os leitores regulares deste blog (se é que eles existem) que eu sou um grande entusiasta de quadrinhos, especialmente os de super-heróis.Embora meus comentários a respeito de otakus-metaleiros podem fazer com que meus prezados leitores pensem que eu tenho algo contra a produção quadrinística oriental, isso seria uma inverdade (como as minhas quarenta edições compradas de Fullmetal Alchemist podem atestar), mas é fato de que convivi por mais tempo com gibis de sujeitos de capas e malhas apertadas do que com ninjas e shinigamis .Eu sou um tipo de cara que anda por aí com um chaveiro do Lanterna Verde, assiste regularmente Homem-Aranha de manhã (se bem que agora não pasa mais...), e largou tudo que tava fazendo pra ir na estréia de Watchmen (e em retrospecto, acho que eu devia ter saído naquele dia....).Mas como hoje em dia em comprar menos gibi do que eu gostaria (eu tenho gastado dinheiro em outras coisas mais importantes - tipo aqueles encadernados de luxo caros à beça!!!), ainda me divirto bastante com peripécias que envolvem essas figuras heróicas peculiares da mitologia contemporânea.E já que todo as nerdices estão envolvidas inerentemente numa teia, é questão de tempo até que algum grupo de desenvolvedores destemidos resolvesse lançar um jogo de super-heróis originais, ao invés das pálidas adaptações que os jogos sofrem deste sempre de aventuras de heróis já estabelecidos.


Freedom Force foi lançado em 2002 pela Irrational Games (que, hoje comprada pela Take-Two atende pelo nome de 2K Boston), time responsável por outro grande título que já deu as caras aqui no blog, o incrível System Shock 2, e também do superlativo Bioshock, este já como uma divisão da Take-Two Interactive (sabe, Bioshock, aquele mesmo jogo que havia sido descrito como possivelmente "animal" naquela análise de SS2 - é embaraçoso constatar como eu escolhia mal meus termos á um tempo atrás).Mas Freedom Force não é um jogo em primeira pessoa atmosférico com uma narrativa intrigante e provocadora, e sim, um misto de estratégia com RPG que não tem medo ser absurdo, cartunesco, e principalmente, divertido, o que é raro num gênero que costuma se levar tão á sério (com honráveis exceções).Freedom Force também adota uma estética bastante única, satirizando os histrionismos das histórias em quadrinhos antigas sem fazer uma paródia direta, o que indica a genuína afeição que os desenvolvdores tem por tais narrativas.


O jogo começa em algum lugar do cosmo, onde o maléfico Lord Dominion, o senhor de todas as dimensões, lança seus olhar para o único pontos da existência que ele não conquistou ainda: um pequeno planetinha azul chamado Terra.Ao invés de tomar o planeta do jeito tradicional (com naves espaciais, extermínio em massa, essas coisas), ele decide se divertir um pouco, dando aos habitantes mais desprezíveis desse planetóide habilidades especiais, através da Energia X, a arma secreta das força de Dominion.Porém, um dissidente dos métodos totalitário-interdimensionais de Dominion, Mentor, escapa numa nave para tentar salvar habitantes da Terra, e é atacado pelos aliens, o que faz com que várias latinhas de Energia X se espalhem pelo globo, dando os mais diversos tipos de habilidades mirabolantes á pessoas comuns.No começo, o jogador controla apenas o ferozmente patriótico Minuteman, um rejuvenescido cientista renegado do programa nuclear americano, á procura de traidores comunistas na pacata Patriot City dos anos 60.Rapidamente, porém, uma variedade de tipos curiosos se juntará á ele no combate ás forças do mal.


O jogo funciona de uma forma diferenciada á outros jogos de estratégia comuns, pois nesse, ao invés de gerenciar recursos e construir tropas indistinguíveis, neste você controla as ações de um pequeno grupo de indivíduos com habilidades especiais contra forças mal-intencionadas e numerosas (algo na linha das séries Commandos e Desperados).Você controla seus heróis diretamente clicando pela tela, movendo-os e orientando ações deles á inimigos e objetos.Cada herói tem uma série de habilidades diferentes, todas custando um pouco (ou um muito) de energia, que vai se recuperando aos poucos.Eles variam entre ataques diretos, raios, magias que mudam estados dos personagens, ataques de área e defesas especiais, e até habilidades especiais, como se teleportar, se enterrar no chão ou ficar invisível, além da possibilidade de interagir com o cenário, já que é possível para os personagens mais fortes pegar carros e barris explosivos e arremessar nos inimigos, bem como arrancar postes e usá-los como bastões gigantes.Como o jogo acontece em tempo real, poderia ser muito confuso ter que assimilar comandos para cada personagem no meio de um confronto mais agitado (especialmente se considerarmos que os ataques dos heróis podem -e vai - causar dano aos seus aliados, o que faz o jogador seja cauteloso a cada comando que executa); felizmente, existe a salvadora tecla de pausa, que congela toda a ação, deixando você escolher que golpes usar em quem.Isso dá ao jogo um ritmo mais estratégico, pois permite ao jogador pensar melhor em que ação executar na hora.


A variedade de habilidades dos personagens presentes no jogo também ajuda a criar diversas possibilidades diferentes de estratégias; cada personagem tem uma série de status numéricos como força, rapidez, velocidade com que recupera energia, entre outros.Além disso, existe também uma série de atributos especiais, que determinam habilidades especiais, como poder voar ou ser mais resistente a certos tipos de ataques, e também fraquezas, como errar muitos ataques ou entrar em pânico ou se atordoar com mais frequência.Finalmente, alguns personagens são compostos de materiais diferentes, como pele, fogo, madeira, metal ou energia, o que faz com que sejam mais ou menos resistentes á determinados elementos presentes nos ataques, como fogo, gelo, radiação e ácido (da variedade sulfúrica - não aquele outro tipo de ácido também muito popular durante os anos 60).


O filé do jogo está presente na campanha para um jogador, cuja viajante premissa foi desenvolvida dois parágrafos acima; nesse modo, novos personagens vão gradualmente sendo adicionados ao seu time, de forma a não deixar o jogador sobrecarregado de novas opções.Também, existe uma variedade considerável de objetivos em cada missão, que vão desde interrogar meganhas para obter informações, destruir dispositivos de destruição em massa, fechar portais temporais que cospem dinossauros, libertar cidadãos indefesos de deuses interdimensionais, ou simplesmente descer o sarrrafo num supervilão.Ainda existem missões mais lineares, em que se explora algum esconderijo secreto, e ainda missões-solo de algum personagem.Antes de cada missão, o jogador deve escolher quatro personagens que vai levar para ela (sendo que muitas missões exigem que você leve um determinado personagem, ou impedem você de levar algum; de uma certa forma, isso ajuda a escolher, pois a grande graça do jogo é variar os personagens); o problema é que não dar pra prever que tipo de adversários vai se enfrentar, ou que tipo de objetivos deverão ser cumpridos, o que faz com que se leve ás vezes um time de heróis simplesmente inadequado, o que faz com que se reinicie missões algumas vezes.Outra complicação é que em algumas vezes, uma missão é na verdade uma sequência de duas ou três fases distintas, sem possibilidade de troca de personagens entre elas, o que torna reiniciar a missão algo um tanto inconveniente.


Ao final de cada missão, o jogador tem acesso á um menu, onde se mostra a metade RPG do jogo.Cada missão completa, cada personagem na sua equipe ganha um certo número de pontos de experiência (os quatro que foram levados para a missão ganham um tantinho a mais), e a cada nível ganho, ele são presenteados com pontos de habilidade, que podem ser utilizados para comprar novos atributos ou habilidades, ou melhorar habilidades já possuídas.Vale lembrar que os status permanecem os mesmos quando os níveis mudam (esse é um jogo de estratégia com elementos de RPG, não o contrário, afinal), e que é necessário gradativamente mais pontos de experiência para cada nível ganho; isto faz com que também seja necessário um grau de pensamento em quais habilidades é necessário investir em cada intervalo de missões, já que é bem impossível conseguir maximizar todas as habilidades de todos os personagens (a menos que você use algum cheat ou coisa do tipo.Mas se você está lendo o meu blog, deve ser uma pessoa legal, honesta e interessante, então não faria isso, não é?).Por fim, é possível recrutar heróis novos com pontos de prestígio, pontos esses que são dados a você ao fim de cada missão dependendo de certas condições, como cumprir objetivos extras em cada missão, não ferir passantes ou curiosos, não destruir prédios e edificações públicas, ou simplesmente achando latinhas de prestígio nas fases (eu adoraria achar uma latinha de prestígio instantâneo na rua - ia fazer milagres pela minha vida social).Esses heróis novos variam do francamente inútil (pobre Sea Urchin e suas inofensivas bolhas de sabão...), passando pelo sutilmente mais poderoso, até o absurdamente overpower (Supercollider, estou olhando pra você).Os melhores heróis custam mais prestígio, então, como no caso dos pontos de habilidade, é necessário saber escolher quem você quer para o seu super-time.


Além do modo de história, existem diversas outras opções de jogo em Freedom Force; a principal delas é a Danger Room, um modo no qual existe uma grande variedade de opções extras de jogo, como criar disputas personalizadas, com qualquer seleção de heróis e vilões que você quiser, enfrentar desafios de tempo, ou encarar hordas de inimigos progressivamente mais fortes.Além disso, existe também um modo multiplayer - mas todo mundo sabe que eu me lixo pra essas coisas - e, além do mais, a jogabilidade intensiva em pausas de FF não parece muito ideal para disputas online.Mas provavelmente o principal recurso extra de Freedom Force são as possibilidades de personalização do jogo (e se você prefere o termo "customização", então... bem, acho que não podemos mais ser amigos).Com a ferramenta de criação de personagens, é possível alterar todo e qualquer personagem do jogo, seja heróis ou vilão, adicionando habilidades e atributos e mudando status, e é possível até criar um personagem novo do zero, incluindo aí a possibilidade de criação de novas habilidades.E se considerar que é possível recrutar esses personagens para a campanha principal (contanto que você possa pagar o custo de prestígio da sua prórpria criação), então, a rejogabilidade vai pras alturas.Além disso, para os jogadores mais ambiciosos, a Irrational/2K Boston disponibilizou ferramentas de modificação mais profundas do jogo, que permitem criar novas "skins" para os personagens e até criar as próprias campanhas; considerando que o jogo foi lançado há uns sete anos atrás, muitos nerds desocupados, digo, membros valorosos da sociedade, já contribuíram fazendo modificações com todo tipo de super-herói imaginável para o jogo, e disponibilizando em muitos fóruns da internet.Isso extende (ainda) mais o valor do jogo.


Apesar de todo esse conteúdo extra, existe uma razão pela qual o modo para um jogador ainda é a fatia mais saborosa deste recheado bolo, e ela é o fato de que a campanha contém uma narrativa extremamente prazerosa e bem escrita, e que captura perfeitamente, como dito antes, o espírito da Era de Prata dos quadrinhos, uma época em que, graças a instituição do nefasto Comics Code, os quadrinhos sofreram um onda de politicamente correto, o que forçou os criadores de quadrinhos a saírem com boas idéias para compensar as amarras criativas forçado pelo código (e a história da queda da E.C. Comics - e a subsequente implantação do Comics Code- traz algumas semelhanças alarmantes com o patrulhamento pseudo-ideológico que os jogos eletrônicos sofrem hoje - afinal, é impressão minha ou o Counter-Strike e o Everquest AINDA estão proibidos no Brasil?*Atualização tardia:Yeah, não estão mais!*).Mas voltando ao assunto, é bom lembrar quem está no comando da narrativa; choveram elogios para Ken Levine, o designer-chefe de Freedom Force, pelo seu trabalho em Bioshock.E, embora Freedom Force não tenha uma narrativa cheia de questões morais e ideológicas (a não ser que você interprete os confrontos de Minutemen com o hilário vilão crio-bolchevique Nuclear Winter como uma metáfora pertinente sobre a Guerra Fria), a narrativa é sim rica em irreverência e caracterizações sutis.


Embora a maioria dos personagens do jogo podem ser facilmente apontados como levemente "inspirados" em certos tipos famosos dos quadrinhos, isso não é necessariamente um problema, visto que eles são caracterizados de uma forma distinta e única, como Man-Bot, o deprimido homem-máquina, El Diablo, o esquentadinho latino incandescente (não tem como não amar esses estereótipos étnicos quando usados no contexto da pós-modernindade, não?), e a Alche-Miss, a feiticeira com um delicioso sotaque do sul dos Estados Unidos.Eu só estou citando esses, mas cada herói do jogo tem um design, poder e tema pessoal único (não tem como não gostar de figuras como a dupla de super-heróis Law & Order, ou o robô do futuro Microwave, ou a vigilante seminua Eve).Os vilões da história também são igualmente bem-construídos, como psicótica The Shadow, o robozão gigante Mr. Mchanical, ou Deja Vú, um sujeito dotado da capacidade de clonar - e de um bigodinho de vilão de filme mudo.Porém, o melhor de todos e jsutamente o antagonista-mór da trama, o diabólico Timemaster, que mais parece uma mistura de Darkseid com Galactus com Kang, o Conquistador com o Anti-Monitor (e se você sabe quem são todos esse mencionados, congratulações; você é um tremendo nerd).Embora o contato com os personagens e suas personalidades é raro, se dando apenas nas cutcenes de começo e fim de missão, nas curtas frases exclamadas durante as missões, e nas sensacionais origens de personagens (animadas num estilo que emula um quadrinho em movimento), muitas dessas interações entre os personagens são impagáveis ("Diablo, less complaining, more flaming!"), e todos os diálogos do jogo carregam naquele dramatismo "over", típico da Era de Prata, no estilo "Com mil demônios! Fui atingido por um raio de energia atômica concentrada!".E, embora a narrativa em si não tenha nada de mais (embora o final não exatamente feliz seja muito legal), todos esses elementos fazem com que se tenha a sensação que a aventura acaba muito rápido; sinal da efetividade das opções narrativas, e de como elas se relacionam bem com o conjunto do jogo.


Freedom Force é um jogo que consegue suceder em muitos aspectos; é um jogo de estratégia mais preocupado com a diversão do jogador do que com números e estatísticas, trazendo profundidade e opções de personalização aos montes para aqueles que querem se envolver com o jogo, e ao mesmo tempo trazendo conteúdo de qualidade para aqueles que querem apenas diversão descompromissada.E é o jogo perfeito para quem quer se refrescar dessas recentes adaptações holywoodianas pasteurizadas de super-heróis, com algo mais tradiconal, porém, consciente o suficiente do próprio tempo para ser dotado de um saudável humor irônico.Há uma sequência disponível do jogo, Freedom Force Vs. The Third Reich , que é igualmente esperta e divertida (fora que eu joguei esse aí antes do original - mas não é um problema, é?), que expande a narrativa e traz mais heróis e vilões.Porém, o original ainda é altamente recomendado, para todos os combatentes do crime em formação espalhados por aí.Excelsior!