quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A Carne dos Anjos Caídos

"Dei a última pressionada no botão de Enter.O último clique do mouse foi um estalo, como uma surpresa terrível num dia terrível.Havia acabado, enfim, aquela que seria apenas mais uma análise.A luz do monitor me encarava sordidamente, como um cachorro admirando um saco de ração.A atmosfera do quarto pesava como uma picape dirigida pelo Faustão.Agora só faltava publicar, mesmo que estivesse condenada a ninguém ler, já que o público-alvo consumidor dos jogos moderno, não sabe apreciar maneirismos de escritas arrojados e blogueiros de narizes empinados.Porém, fui em frente.Acabaria ali, naquela noite..."



Aham.Depois de mais uma das minhas viagens pseudo-literárias, podemos começar a análise.Max Payne é um jogo de tiro em terceira pessoa, lançado em 2001 para PCs desenvolvido pela companhia finlandesa Remedy Entertainmente.A versão para PC não foi a única, já que foram feitas versões do jogo para PS2, XBox (estas versões feitas pela toda poderosa Rockstar) e até uma versão para GBA, que eu joguei e é bem melhor do que você está penando.Mas monólogos internos prolixos á parte, sobre o que é este jogo?



Max Payne conta as desventuras de um policial homônimo.Max era um sujeito normal, até que um dia chega em casa e encontra a mulher e filha pequena mortas por dois sujeitos drogados por uma substância misteriosa.Três anos depois, ele ainda não se recuperou do trauma, e agora trabalha como um policial infiltrado na máfia de Nova York.Uma noite, porém, seu parceiro é morto, seu disfarce na Máfia é descoberto, e ele se vê metido até o pescoço num esquema que envolve a Máfia é uma poderosa empresa, e sua igualmente poderosa diretora.Agora ele não tem nada a perder, o quê é uma boa prerrogativa para massacrar alguns bandidos.A história lembra um pouco o personagem da Marvel, Justiceiro, uma das muitas influências do jogo.Mas Max não é um super herói, apesar de ele também ter um super poder para usar na sua cruzada contra o crime.



A maioria das pessoas que viram o filme Matrix não saíram do cinema se lembrando da história complexa ou de suas ponderações filosóficas, mas sim das incríveis cenas de tiroteio, nas quais o tempo diminuía de velocidade, e viam-se as balas perfurando o ar, enquanto o protagonista desviava delas.Essa idéia é aproveitada na mecânica de bullet-time, usada extensivamente no jogo.Durante a passagem de Max no submundo de Nova York, ele encontrará toda a sorte de mequetrefes armados até os dentes, prontos para transformar o policial com tendência á metáforas em queijo-suíço.Mas com um clique do botão direito do mouse, o bullet-time é ativado, e então é possível desviar das balas e mirar nos inimigos com mais precisão.Há um limite para o uso deste poder, mas dificilmente ele é alcançado.Essa mecânica joga um pouco de tempero no que seria apenas mais um jogo de tiroteio genérico.Sem o bullet-time, o jogo ficaria até difícil demais, e vale lembrar que ele já é bastante difícil, mesmo no modo de dificuldade mais brando.



Mas engana-se quem pensa que Max Payne é um jogo focado apenas em tiroteio.Bom, para falar a verdade é sim, e você não vai fazer muito mais que atirar em vários tipos de capangas durante o jogo.Porém, a história do jogo é contada de um modo bem interessante:através de uma graphic-novel virtual.Entre as fases, e quando o personagem interage com objetos ou chega em determinados pontos do cenário, essas pequenas sequencias são ativadas, e fazem um bom trabalho de imergir o jogador no mundo sujo do jogo.Essas sequencias contam com dublagem e bons desenhos que usam técnicas digitas, e podem ser revistas a qualquer momento do jogo, numa sequencia contínua, o que é bom para encaixar os pedaços das história que é mais ou menos complicada.Nessas sequencias se nota uma influência dos quadrinhos da série Sin City, de Frank Miller, o que indica um bom processo de pesquisa, visto que o filme que popularizou (ou massificou, dependendo de quão fanboy você é) a série é de 2005.Essa não é a única influência do jogo, já que existem várias referências a filmes de Jonh Woo e até paralelos surpreendentes com a mitologia nórdica.Outro detalhe importante são as duas incrivelmente bizarras fases de sonho (sendo uma delas uma viagem alucinógena em que o protagonista se dá conta que está num jogo de computador e atira numa versão de si mesmo), que servem para detalhar toda a psique perturbada do personagem, e também para colocar o jogador em desafios como labirintos e pulos com gravidade alterada.Ah, é, e não vou me esquecer de falar do incrível nível em que Max tem que escapar de um restaurante que está indo pelos ares.



Mesmo com tudo isso, o foco de Max Payne continua sendo no tiroteio, e o jogo apresenta uma grande variedade de armas para isso, como pistolas, escopetas, granadas, espingardas e as ótimas submetralhadoras duplas.Mas todo esse tiroteio não fica cansativo, pois ele é apresentado em situações diferentes e cenários variados.Estes cenários também são cheios de pontos interativos e destrutíveis, que revelam porções dos cenários onde estão escondidos os utilíssimos analgésicos, que servem para recuperar energia, e munição extra.A munição é distribuída fartamente, mas não ao ponto em que você poderá passar o jogo todo confiando numa só arma.O mesmo não pode ser dito em relação ao Analgésicos, que vem escassamente em dados momentos (especialmente no início do jogo), e em outros momentos vem aos montes.É sempre bom ter um estoque destes á disposição, já que alguns duelos com os inimigos (que Sempre vem em grupo e estão substancialmente mais armados que você) pode tirar largas partes da energia.Quantos aos inimigos, nota-se umas das falhas do jogo; algumas vezes os inimigos detectam a sua presença antes de você entrar na sala onde eles estão.Mas a inteligência artificial se mantém num nível bom, mantendo a dificuldade do jogo equilibrada, mas sempre alta.



O som do jogo é excelente, desde ás vinhetas climáticas, aos efeitos sonoros realistas de tiros e explosões.A dublagem também é muito boa, e eu dou destaque para o sujeito que faz o voz de Max, que é sempre grave e sinistra, e que dá dignidade mesmo ás metáforas mais cafonas e pretensiosas do tira.E acredite, elas são muitas (De onde um policial nova-iorquino tirou tanto vocabulário?Com certeza não foi dos donuts!).Max Payne também teve uma versão com texto e áudio em português, que infelizmente não posso julgar porque simplesmente não foi a que eu joguei.O jogo também vem com uma série de ferramentas de modificação, o que gerou algum mods relativamente populares baseados em kung-fu e o filme Matrix.Este jogo também gerou uma igualmente boa sequencia, influenciou dúzias de jogos que usam o bullet-time até hoje, e voltou á mídia recentemente graças ao anúncio que um filme baseado nele vai ser feito e com Mark Wahlberg no elenco (sabe, aquele sujeito que fez o remake de O Planeta dos Macacos e já tem uma experiência prévia bastante bizarra com games).



O veredicto do jogo é simples:se você gosta de jogos de ação, jogue.Se você acha tiroteio chatos e monótonos, este é um jogo que vai te fazer bocejar bastante, a não ser que você seja um entusiasta de quadrinhos.O jogo peca por ter uma conclusão muito anticlimática,e ser um pouco curto, mas no total, é um jogo divertido e com bons gráficos, mesmo sendo um pouco repetitivo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Leo, honestamente... Só você para fazer um jogo de tiroteio parecer até divertido. =P

Unknown disse...

Axo q as referencias de mitologia nordica saun mt poucas para serem mencionadas =P ("Ragnarok" soh axo) mas enfim... Realmente eh um ótimo jogo e o 2 explora ainda mais o distúrbio mental sofrido pelo personagem (e claro os tiroteios sempre diversificados =D) além de incrementar a trama do game ainda mais oO (dica: Max Payne 2 vale um review)