sexta-feira, 17 de agosto de 2007

No espaço ninguém irá ouvir seus gritos

FERREIRA 17.JUL.07
re:Análise

"Puf,puf...Oh não, eles estão chegando!Eu tenho que escrever isso rápido...Puf,puf......Ah não, a arma emperrou! -BANG!BANG!- Desemperrou.Puf,puf...Estou quase chegando na porta.Eles estão me alcançando!OH NÂO! -BANG!BANG!CLICKCLICKuuuuurrrrrrrghhhhhkillllmeeeeeeeeeBANG!splocht.bzzzzzzzzzz...



È incrível como alguns jogos tão fascinantes passam completamente despercebidos.Por exemplo, se você disser o nome "System Shock" em alguma sala cheia de fãs de jogos de computador, dificilmente alguém moverá uma palha.Porém, este é um daqueles típicos casos de nomes familiares, onde todos já ouviram falar, porém ninguém jogou.Mas na nossa era de eMules e BitTorrents, é fácil matar a curiosidade com alguns cliques e paciência (se você tiver uma conexão 200k como a minha).System Shock 2 é a sequência do jogo System Shock (dã),lançado em 1994, este no qual você controla um hacker que enfrenta monstros e um sistema de computador maligno.È sabido que este jogo foi bastante influente, assim como o seu sucessor, este lançado em 1999.SS2 é jogo de aventura futurista em primeira pessoa,mas que mistura
elementos de outros estilos, como RPG,adventure e terror psicológico.



A jogo começa com "você" (o seu personagem), se alistando nas Forças Armadas de uma organização de segurança mundial,a UNN.Após um curto treinamento e escolher a qual divisão do exército você irá pertencer (Marines,especialistas em tiroteio,Navy,especialistas em tecnologia e hackear computadores,e a OSA,especialista em uso de habilidades psíquicas.),você passa por 4 anos de treinamento em missões da sua escolha.Porém você não joga estas missões,apenas as escolhe para determinar os atributos numéricos do seu personagem.Após isso,você vê um filminho que detalha um pouco da história do jogo:a Von Braun,a primeira nave estelar capaz de viajar mais rápido que a luz na história da humanidade,está prestes a ser lançada e será escoltada pela nave Rickenbacker,da UNN,onde você foi aceito para estar.Porém,ao que tudo parece, *algo* deu errado.O seu personagem acorda no Deck Médico da Von Braun,e recebe ordens de uma tal de doutora Polito para sair dali.Dali pra frente,você verá que o lugar foi quase todo destruído, e agora está cheios de zumbis assassinos,robôs assassinos,criaturas insetóides assassinas,entre outras coisas assassinas que excedem a descrição."Pô" você deve estar pensando "um jogo de tiro em que você mata monstros numa estação espacial destruída é o maior clichê do mundo!O que eles fizeram,abriram um portal pro inferno,hein?".Vai nessa,em System Shock o buraco é bem mais em baixo...



A primeira vista,a interface de SS2 pode parecer confusa, já que você deve manipular itens,audiologs,mapas e informações sobre o status do personagem.Mas isso é só impressão inicial,pois com o tempo você vai acabar se habituando a tudo.Este detalhe só demonstra a complexidade inicial de SS2 em frente a outros jogos de tiro.Os tais elementos de RPG,por exemplo,servem não afetam o jogo por trás dos panos,e sim diretamente,pois,por exemplo,é necessário tantos pontos de habilidade num determinado tipo de arma para poder conseguir usá-la ou tantos pontos de habilidade em hackear para conseguir passar por certos computadores.Isso faz com que você tenha uma experiência de jogo determinada pelo tipo de personagem quê você constrói ao investir os seus Cyber Modules(itens que servem para "upgradear" o seu personagem e são encontrados pela nave e enviados a você pela Dra.Polito).Ah,eu eu quase me esqueço:existem várias habilidades para serem utilizadas e desenvolvidas,desde das já citadas capacidades de usar classes de armas diferentes e mais poderosas e poder hackear computadores para ganhar itens ou desabilitar segurança,até pesquisar itens desconhecidos para saber suas utilidades,modificar armas e dúzias de habilidades psíquicas diferentes.Mas o interessante é que muitas habilidades são complementares,ou seja,algumas habilidades psíquicas melhoram seu desempenho como hacker,habilidades de pesquisa fazem você poder usar armas melhores,etc..O jogo estimula você a criar um personagem mais equilibrado,ao invés de um mais focado em um atributo.Porém,não é possível evoluir todas as características do personagem,pois nem todos os Cyber Modules do jogo permitem isso,além de que os upgrades mais avançados são muito custosos.Então,para conhecer tudo que o jogo tem a oferecer,é preciso jogar mais de uma vez.



O que vai realmente fazer você se lembrar de System Shock 2,porém,é com certeza o clima que o jogo cria.Os ambientes destruídos e com sinais de luta,os múltiplos corpos (e pedaços de corpos) da tripulação da nave espalhados,uma voz esquisita vinda do nada que de tempos em tempos rumina alguma frase na caixa de som,e principalmente os "fantasmas" (na verdade resquícios psíquicos) dos tripulantes momentos antes da morte deles.Tudo isso contribui para uma atmosfera de paranóia atemorizante,o suficiente até para considerar SS2 um jogo de terror.Mas não
terror no sentido "cachorros-pulando-das-janelas-quando-você-menos-espera",mas sim investindo contra o psicológico do jogador.Outro detalhe essencial para essa atmosfera são os muitos audiologs,diários sonoros dos integrantes da nave,que estão espalhados pelo jogo(e que eu tentei parcamente reproduzir no começo da análise).Encontrar alguns deles dão informações vitais para o progresso do jogo,como senhas de portas,mas a grande maioria serve para compor uma história incrivelmente rica em detalhes.Esses logs contam desde os detalhes da vida dos tripulantes e as picuinhas entre eles,mais principalmente respostas para toda a insanidades que acontecem na nave,o que são aqueles monstros,como eles chegaram na nave,até os assustadores relatos finais dos tripulantes.São tantos detalhes,realçados por um bom texto e uma boa dublagem,que a história se revela uma atordoante batalha entre o orgânico e o cibernético em que o seu personagem é um mero peão,e fica mais complexa a medida que o jogo avança,ao ponto que se torna muito difícil falar sobre os audiologs sem revelar algum detalhe importante.Mas sobre uma coisa importante eu posso falar:o vilão.



Lembra do sistema de computador maligno que atazana a vida do jogador no primeiro jogo?Pois é,ele não é "só" um sistema de computador maligno,e sim um dos vilões de videogame mais sensacionais que eu tenho notícia.Mais precisamente,uma vilã.SHODAN é o nome dela,e o jeito como ela entra na história é tão memorável como surpreendente,e ao longo do jogo,você e ela tem de trabalhar em conjunto para deter "uma grande ameaça".Mas no processo,ela faz questão de te escarnecer e diminuir te chamando de "inseto" e "patético",e sem deixar de enaltecer a sua própria magnificência e destino á onipotência.Ela é uma vilã multifacetada e cheia de possíveis interpretações,e o conflito entre você e ela vai crescendo até um explosivo (embora um pouco fácil) enfrentamento final.



Durante as suas aventuras a bordo da Von Braun e da Rickenbacker,seus principais objetivos deverão ser ativar ou desativar coisas e encontrar itens.Os muitos andares da nave são labirínticos,e muitas vezes intimidadores ao iniciar,e é muito fácil acabar não achando um item ou uma passagem mais escondida.Os mapas também são cheios de armadilhas,como salas radioativas,"turrets",câmeras de segurança que se te filmam mandam todos os inimigos da fase pra cima de você,e aquele maldito robozinho que explode na sua cara.Felizmente,sobram itens para recuperar energia e pontos utilizados nas habilidades psíquicas.Durante o jogo,você também encontra nanites,que servem para comprar itens nas máquinas replicadoras da nave,implantes para aumentar sua capacidade,e até um porta-joguinhos,que serve para você jogar uns joguinhos retrô enquanto aquele item demorado está sendo pesquisado.Porém,como num RPG normal,existe um limite de itens que você pode carregar(que é relativamente pequeno),e como as armas ocupam bastante espaço,muita vezes você precisa jogar itens importantes fora.



Um outro problema que incomoda bastante é relativo aos inimigos.Alguns,como os robôs mais fortes e os turrets,precisam de um tipo de munição mais forte para serem abatidos;porém,esse tipo de munição não abunda no jogo,e ás vezes é muito cara,deixando você forçado á abater um inimigo usando uma arma de mão para economizar munição.Outro problema é relacionado aos inimigos mais fracos,que reaparecem (também conhecido como respawning) depois de um tempo.Isso é muito irritante nas fases que exigem mais exploração e idas e voltas,já que a munição como eu disse é muito escassa.Sem contar que alguns inimigos(como o infame robozinho que explode na sua cara e me deu um tremendo susto quando eu tava ocupado olhando o mapa e não vi ele chegando) nem podem ser atingidos por armas de mão,forçando você a usar a pistolinha de energia.E também,as armas se degradam durante com o tempo,e a sua arma enguiçar no meio de um combate pode ser fatal,principalmente quando não há tempo de consertá-la sem ser eviscerado pelos monstros.E piora,pois os respawns desontrolados podem acabar fazendo com que você seja emboscado por um grupo enorme quando você estiver voltando a um cenário.



Mesmo com suas falhas,SS2 é um jogo de vanguarda,que influenciou de vários jogos de tiro subsequentes,como Deus Ex e Metroid Prime,e que também ganhou uma legião de fãs fiéis na mesma proporção onde não teve sucesso comercial.Esses fãs criaram patchs para atualizar os gráficos do jogo,e imploram por um terceiro episódio da série.Mas o que o pessoal da Irrational Games(que acaba de ser adquirida pela Take Two) está fazendo é bem mais interessante que uma mera sequência,mas sim uma reinterpretação da mecânicas do jogo original como uma história e backgrounds completamente novos.O projeto chama-se Bioshock,e tem previsão de lançamento para ainda este mês.Pelo que eu vi até agora parece ser animal(quem estiver mais curioso visite o site do jogo,aqui).Mas de mais a mais,para ou desprovidos de um Xbox 360 ou de uma placa de vídeo razoável,ou apenas quer jogar um bom jogo,pode ir feliz no System Shock 2.È o melhor thriller de fiçcão científica que você jamais vai ver no cinema.



E a moral da história é:"Sempre atualize seu antivírus,senão a SHODAN vai invadir seu computador e querer dominar o universo."

Um comentário:

Amenophis disse...

System Shock 2 é um game realmente desafiador. Joguei inteiro sem precisar de walkthrough, mas tive que começar do zero bem perto do final, por ter distribuído erradamente durante a primeira tentativa. Realmente há um prazer em jogar tudo de novo de maneiras diferentes. Seja como paranormal ou rambo, System Shock é um show em história e surpresas. Abraços.